Tuesday, July 11, 2006

A primeira escola de filósofos científicos surgiu em Mileto. Esta cidade no litoral jônico era uma ativa encruzilhada de negócios e comércio. A sudeste ficavam Chipre, Fenícia e Egito; ao norte, os mares Egeu e Negro; a oeste, através do Egeu, a Grécia continental e a ilha de Creta. A leste, Mileto mantinha estreito contato com a Lídia e, através desta, com os impérios da Mesopotâmia. Com os lídios, os milésios aprenderam a prática de cunhar moedas de ouro e servir de dinheiro. O porto de Mileto vivia apinhado de veleiros de muitas nações e os seus armazéns estocavam mercadorias do mundo inteiro. Como conheciam o dinheiro como meio universal de armazenar valor e troca de moedas, não admira que os filósofos milésios se indagassem de que são feitas todas as coisas.
“Todas as coisas são feitas de água”, teria dito tales de Mileto.
E assim começam a filosofia e a ciência. A tradição grega registra Tales como um dos Sete Sábios. Heródoto nos conta que Tales previu um eclipse do sol. Os astrônomos avaliaram que isso ocorreu em 585 a. C. e portanto se considera que ele viveu nessa época. É pouco provável que Tales tivesse uma teoria sobre os eclipses, mas devia estar familiarizado com os registros babilônicos de tais fenômenos e portanto sabia quando espera-los. Por sorte, aquele eclipse foi visível em Mileto, o que foi bom para a cronologia e, sem dúvida, também para a fama de Tales. Igualmente, é muito duvidoso que, na geometria, ele tenha estabelecido os teoremas referentes à semelhança dos triângulos. No entanto, é certo que ele aplicou o método do polegar, usado pelos egípcios para determinar a altura de uma pirâmide, a fim de descobrir a distância de navios no mar e de outros objetos inacessíveis. Isso indica que ele tinha alguma noção de que as regras geométricas são de aplicação geral. Esta noção do geral é original e grega.
Diz – se que Tales também afirmou que o ímã tinha alma porque pode mover o ferro. A afirmação seguinte, de que todas as coisas estão cheias de deuses, é mais questionável. Isso bem pode ter sido atribuído a ele baseado na afirmação anterior, mas torna – a supérflua. Dizer que o imã tem alma só faz sentido se as outras coisas não tiverem. Independente disso, é importante relevar como Tales teve uma visão avançada da formação de todas as coisas, dizendo que estão cheias de deuses, quem sabe ele não quis dizer no sentido de pequenos deuses numa visão mística, mas como algum ser consciente que forma todas as coisas e faz elas serem o que são.
Muitas histórias têm sido associadas a Tales, algumas possivelmente verdadeiras. Diz – se que certa vez, quando desafiado, demonstrou seu gênio prático monopolizando o mercado do azeite de oliva. Seu conhecimento de meteorologia antecipou-lhe que a colheita seria abundante. Portanto, alugou todos os lagares que conseguiu e, chegada a hora, alugou - os, estipulando o preço. Assim, obteve uma grande quantia e demonstrou aos seus algozes que os filósofos podem ganhar dinheiro quando se dispõem.
A idéia mais importante de Tales é uma afirmativa de que o mundo é feito de água. Isto não é tão artificial, como poderia parecer a primeira vista, tampouco pura fantasia da imaginação, separada da observação. O hidrogênio, substância geradora da água, tem sido considerado na nossa própria época como o elemento químico a partir do qual podem ser sintetizados todos os demais. A opinião de que toda a matéria é uma representa uma hipótese cientifica muito reputada. Quanto à observação, a proximidade do mar torna mais do que plausível a possibilidade de se notar que o sol provoca a evaporação da água, que a neblina se eleva da superfície para formar as nuvens, as quais voltam a se dissolver em forma de chuva. Segundo esta visão, a terra é uma forma de água concentrada. Os detalhes podem ser bastante fantasiosos mas, ainda assim, é um notável feito ter descoberto que uma substância permanece a mesma em diferentes estados de agregação.

Saturday, July 01, 2006

Início da Bíblia, primeiras palavras do livro do Gênesis: “No princípio Deus criou o céu e a terra. Ora, a terra era solidão e caos, e as trevas cobriam o abismo, mas sobre as águas adejava o sopro de Deus. Então disse Deus: ‘Haja luz’. E houve luz. Viu Deus que a luz era boa, e separou as trevas da luz, e a chamou dia, às trevas noite. Assim fez-se tarde e depois se fez manhã: PRIMEIRO DIA.”
Lendo-se apenas desatenciosamente o texto acima, o que concluímos? Nada de muito extraordinário, apenas Deus de algum jeito, não importa o qual, criando a diferença entre escuridão e luz em um dia, no caso o primeiro da criação. Porém, atentemos para um pequeno detalhe neste trecho: “separou as trevas da luz, e a chamou dia”, e logo após refere-se a tudo isso como tendo sido o primeiro DIA. Primeiramente, o que é um dia? O que define um dia na nossa concepção? E quanto ele dura e por quê? Uma das idéias dadas no texto acima, bem familiar a nós mesmos é a de que Deus criou um intervalo cíclico de tempo composto por um período de trevas (noite) e outro de luzes, dividido em manhã e tarde (dia), ao qual podemos denominá-lo como um todo como dia. Depois, designa-se este processo como tendo sido o PRIMEIRO DIA. Mas baseado em que referência temporal que este processo inteiro (de criação da diferença entre escuridão e trevas) foi denominado como um dia? É possível que todo esse processo tenha ocorrido no mesmo intervalo de tempo necessário para que ocorra uma transição entre luz e trevas? Para pensarmos melhor nisso, vamos voltar à definição de dia. A forma mais correta atualmente para se definir um dia para nós na Terra é a partir do período gasto para que ocorra uma rotação completa do nosso planeta em torno do nosso eixo, não? Porém, o texto começa quando ainda não havia a Terra, porém quando ela ainda estava sendo criada. E, se ela estava ainda sendo criada, não existia Terra girando em torno do seu próprio eixo e conseqüentemente nosso dia, como conhecemos, simplesmente não existia. E se ele ainda não existia, como poderia ter sido chamado de PRIMEIRO DIA?
Novamente, em termos cosmológicos falando, o que é preciso para que haja: dia, noite, e um intervalo cíclico contendo um dia e uma noite ocorrendo de forma contínua e constante? É preciso que haja no mínimo um planeta girando em torno de uma estrela, no qual o dia será, em um ponto genérico em questão na superfície deste planeta, o período em que ele estará voltado para a face da estrela, e a noite, o período em que não estará voltado para a face da tal estrela em torno da qual está girando. Ou seja, como condição imprescindível, antes de tudo deve estar existindo uma estrela, para que depois exista o planeta para circundá-la, o que significa que para que uma descrição da criação dos dias terrestres possa estar completa ela deve incluir a criação do Sol não?
Qual é o período necessário para se criar este arranjo celeste? De acordo com o texto isso ocorreu em um dia, o primeiro dentre os seis usados na criação. Mas se foi apenas um dia, por que nossos estudos astronômicos dão como 10^15 anos a idade do nosso universo, 4,8 bilhões de anos para a idade do Sol e 4,5 bilhões de anos para a idade da Terra?
"Então disse Deus: ‘Haja luz’. E houve luz.".Não pode perfeitamente este trecho estar se referindo à criação do Sol? Que como todos sabemos, de acordo com a cosmologia, não foi nada instantâneo? Ou melhor, além de não ter sido instantâneo, não foi algo que ocorreu imediatamente antes da colocação da Terra em rotação em torno do Sol, mas com um considerável intervalo de tempo entre eles.